Há mais ou menos 40/50 anos em Barrô era o tempo em que:
– Barrô de Baixo e Barrô de Cima, cujas fronteiras se situavam junto à figueira do Conde – agora a uns vinte metros do Centro Cívico da ABARCA – se digladiavam das mais diversas formas, das quais a mais evidente, era a Festa de S. Tiago;
– As pessoas viviam do vinho – que era bom – e do arroz e outros géneros, numa economia de subsistência e auto-suficiência quase total;
– O pagamento ao barbeiro, ao padre e ao sacristão era feito em milho;
– A moagem do milho e da azeitona era paga com a maquia;
– A sala de visitas era a adega;
– A riqueza das pessoas avaliava-se pelo número de porcos que matava e pelas juntas de bois que tinha;
– A salgadeira conservava durante muitos meses, a carne de porco;
– Em toda a freguesia não havia televisões, havia dois telefones, dois ou três automóveis e só os ricos tinham bicicleta;
– Não havia estradas alcatroadas;
– A quase totalidade das pessoas andava descalça;
– As pessoas trabalhavam de sol a sol, de segunda-feira até ao meio dia de domingo;
– As festas tradicionais e os arraiais eram a única oportunidade de vestir o “fato domingueiro”;
– Todas as pessoas se conheciam dentro da freguesia;
– Não havia restaurantes – no concelho e a sul de Águeda, lembramo-nos de um apenas;
– Quando se fazia qualquer viagem, levava-se o farnel;
– O vinho para as tabernas e pensões era transportado de casa do lavrador, em cascos, sendo servido ao copo ou à picheira/ pichel;
– A economia rural assentava em muitas relações de troca directa de produtos e serviços.
Hoje Barrô é:
– A agricultura da nossa terra, com algumas excepções de complementaridade, desapareceu, estando a maior parte dos terrenos em mato ou pousio;
– A indústria e os serviços dominam a economia;
– Não se conhecem fronteiras nos contactos dia a dia;
– Ninguém se preocupa em produzir o que consome, mas apenas em ter meios para comprar o que precisa e que pode vir de qualquer país do mundo, por mais longínquo que seja. Na economia actual, tudo tem um factor de troca – o dinheiro;
– A freguesia tem, com certeza, mais de um milhar de telefones;
– Em muitas casas há mais do que uma televisão;
– O telefone, o telemóvel e a internet, permitem contactar rapidamente com qualquer parte do mundo;
– A freguesia tem centenas de automóveis;
– Todas as estradas, caminhos e veredas são alcatroadas;
– Ninguém anda descalço, etc., etc..
A nossa vida, que era feito dentro de uma área geográfica restrita em que, a maior parte das pessoas não passava dos limites da freguesia, ultrapassa-a, neste momento, sendo, na maioria dos casos global.
Os nossos vizinhos já não são só os da freguesia ao lado, mas os portugueses, os europeus, o mundo.
Por estas razões e por muitas outras, muita coisa mudou e tudo tende a uniformizar-se, devendo, por isso, ficar para a história o que foi feito ao longo dos tempos.
Adp. in «Barrô ao longo dos Tempos»
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3 comentários:
Muito interessante os detalhes da rotina de vida de Barrô de outras épocas e olha que não faz tanto tempo! Abraços
E as pessoas eram tão mais felizes! Lembro com tantas saudades as cantigas que cantava com a minha mãe e irmãs na altura das escarpeladas, na apanha da batata e em tantas outras tarefas...e o cheiro da terra, o odor da folha de eucalipto ou o crepitar da carqueija em chama na matança do porco...Enfim, reminiscências de um passado que trago preso na algibeira!
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